domingo, 24 de abril de 2022

Por que o "salário emocional" vai muito além do dinheiro?


Cada vez mais as empresas precisam de funcionários comprometidos com seus objetivos empresariais e cada vez mais os funcionários precisam de empresas que valorizem seus talentos. O "salário emocional" é um bom caminho para aliar esses anseios.

Fonte: Google
Segundo dados do IBGE, ao final de 2021 eram cerca de 12,0 milhões de desempregados no Brasil. O problema, claro, é muito complexo e de solução (se haverá) a longo prazo. Como professor universitário, nas minhas várias conversas com empresários e empreendedores, sempre surge a questão da qualificação dos funcionários. Os empresários, muitas vezes, reclamam que existe a vaga, porém os candidatos não têm qualificação para ocupá-la. Por outro lado, egressos de universidades reclamam que muitas empresas não valorizam suas qualificações.

Como resolver isso? Como aproximar as partes para a realização mútua? Como diminuir esta lacuna?


Obviamente que a solução não está centrada em apenas um aspecto. Mas uma coisa que vem dando muito certo em muitas empresas é o "salário emocional". "O salário emocional" é aquilo que é somado ao salário de ordem legal e que concede benefícios aos funcionários, que não só o dinheiro. O "salário emocional" está relacionado com a saúde e felicidade no trabalho. O que quero dizer, é que o dinheiro é importante, óbvio, mas não é tudo na vida de um funcionário. Uma empresa que se preocupa com seu capital humano, pode incluir no plano de contratação, benefícios que os trabalhadores valorizem tanto ou mais daquilo que estiver no contracheque.

Mais do que nunca, os trabalhadores estão dando valor àquilo que não seja apenas o valor de seu salário tradicional. Valorizam benefícios subjetivos que o reconheçam como parte integrante e importante da empresa. A pandemia trouxe também, novas variáveis em relação ao ambiente de trabalho, como o home office, por exemplo, mudando também o contexto das relações de trabalho em muitas organizações. Por isso, novas formas de atrair e manter talentos deve ser buscada pelas empresas.

O que a empresa pode oferecer, como "salário emocional":

1. Preocupação com a família do funcionário - horários de trabalho flexíveis ajuda os pais a harmonizar a vida profissional com a vida familiar. Subsidiar creche para os filhos, também é importante. Todos valorizam muito o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. As "vidas" não são desassociadas. No contexto atual, permitir que o funcionário trabalhe em casa algumas vezes, traz enorme benefício para ambos;

2. Espaços de lazer na empresa - espaços para pequenos intervalos para relaxar e renovar as energias é fundamental para um bom ambiente de trabalho e ajuda na felicidade dos funcionários. Inclui-se aqui, espaço para ginástica laboral que ajuda muito no bem-estar das pessoas;

3. Desenvolvimento pessoal e profissional - subsidiar/proporcionar cursos de desenvolvimento profissional e também pessoal é muito relevante, pois é uma ótima estratégia para que o funcionário continue melhorando e aprendendo.

4. Gerar constantes oportunidades de crescimento - é importante o funcionário perceber que existem oportunidades dentro da empresa, para seu crescimento profissional. A meritocracia bem executada é uma arte de bons gestores;

5. Trabalho voluntário na comunidade - algumas empresas que incentivam o trabalho voluntário em causas importantes na comunidade, recompensam seus funcionários com horas-extras ou folgas. Isso ajuda muito a construir uma sociedade melhor e melhora muito a autoestima da pessoa que se sente útil ao ajudar mais necessitados;

6. Funcionários participam de decisões da empresa - algumas empresas possibilitam a participação dos funcionários em algumas decisões. Obviamente que não se trata de consultar todo mundo a todo momento. Mas, valorizar a participação dos funcionários em algumas decisões aproxima a cultura da empresa. Escutar os funcionários é muito importante para os gestores.

7. Conceder benefícios sociais - proporcionar aos funcionários o cuidado com a saúde mental, por exemplo, é uma ótima maneira de prevenir doenças laborais e por consequência baixa ao trabalho. Oferecer assistência psicológica paga pela empresa, demonstra o interesse da empresa para com a saúde e felicidade de seu funcionário. Subsidiar um Plano de Saúde para o funcionário e família é um componente muito atrativo para os funcionários.

8. Valorização e reconhecimento dos funcionários - oferecer experiências que fiquem na memória do funcionário, como viagens de lazer é uma ótima política. Também a participação nos lucros e bônus anuais incentiva o funcionário a se engajar cada vez mais nos objetivos empresariais. Aqui não se trata de comissão por vendas ou cumprimento de metas individuais. Trata-se de alinhar a cultura da empresa com seus valores.

As empresas que estão dispostas e puderem oferecer em seu pacote de contratação algum "salário emocional", certamente terão um olhar diferente pelos talentos de que precisa. Assim, algumas empresas que utilizam o "salário emocional" atraem mais talentos e ao mesmo tempo intensificam a lealdade de seus funcionários. É fácil para o empresário fazer tudo isso? Não. Não é fácil e também precisa ser uma via de mão dupla. Ou seja, os funcionários precisam reconhecer o esforço da empresa e se alinharem na busca do objetivo comum que é a sustentabilidade financeira e social da empresa.

A felicidade e o bem-estar dos funcionários, não depende mais, somente do valor em dinheiro que a empresa pode proporcionar a eles, e sim de estratégias de "salário emocional" combinadas.

Assim, as empresas que oferecem uma boa dose de "salário emocional" têm como efeitos colaterais, a melhoria da saúde mental dos funcionários, a prevenção de doenças do trabalho como a Síndrome de Burnout, funcionários mais engajados e comprometidos, funcionários mais produtivos e principalmente funcionários mais saudáveis e felizes que irão cada vez mais fortalecer a cultura e os valores da empresa.


Professor Mario Fernando Mello, Dr.
Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas
UFSM - Universidade Federal de Santa Maria